Video games podem ajudar a neurociência a conhecer melhor o cérebro

Por Renan Henrique Gomes Damazio Assunção

O entendimento completo de todas as funções cerebrais é ainda um grande mistério que tira o sono de diversos cientistas ao redor do mundo. Neurocientistas do mundo todo trabalham em busca de respostas que possam explicar por completo nosso comportamento, sono, sonhos e diversos outros temas ligados aos mistérios do cérebro.

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As linhas de pesquisa e as descobertas da neurociência na última década vêm crescendo em nível acelerado, e uma destas pesquisas pode trazer grandes avanços para os pesquisadores desta ciência, principalmente aqueles que estudam fenômenos nos quais a replicação por meio de modelos ou em laboratório é restrita, como traumas ou violência.

Pesquisadores do Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da RWTH Aachen University em Aachen, Alemanha e do Departamento de Comunicação da Michigan State University no Estado do Michigan, Estados Unidos, divulgaram um estudo das relações de comportamentos cerebrais durante jogos de violência através image1de ressonância magnética que mostraram uma relação entre o uso de violência em vídeo games e áreas no cérebro ligadas a violência na vida real.

Os pesquisadores gravaram 13 jogadores homens da Alemanha que jogavam no mínimo 5 horas por semana, com idades entre 18 e 26 anos, enquanto jogavam jogos violentos de FPS (First-person-shooter ou jogos de tiro em primeira pessoa) durante 16 minutos cada, por meio de um procedimento de ressonância magnética cerebral chamado de fMRI (functional magnetic resonance imaging ou ressonância magnética funcional). Através da análise do vídeo e áudio gravados enquanto os voluntários jogavam, feita por dois estudantes de graduação da Annenberg School for Communication, University of Southern California e um supervisor (Rene Weber), as imagens de ressonância foram separadas em 5 fases: A, passivo ou morto; B, preparação/busca; C, Perigo potencial; D, Sob ataque; E, combate ativo .Segundo os pesquisadores a análise dos resultados obtidos mostrou que “a ativação do cingulado dorsal e a desativação do cingulado anterior e da amídala cerebral caracterizaram o padrão médio-frontal relacionado à violência virtual”. Estas mesmas áreas também estão ligadas ao comportamento violento em seres humanos.

Este estudo traz a discussão do uso de ambientes virtuais para o estudo da neurociência de forma a não exporimage2 os voluntários a nenhum tipo de risco. Segundo os pesquisadores Klaus Mathiak e Rene Weber, no artigo “Toward Brain Correlates of Natural Behavior: fMRI during Violent Video Games” divulgado no journal Human Brain Mapping em 2006, “ambientes virtuais podem ser usados para estudar processos neurais envolvendo um comportamento semi-naturalista”.

Embora este tenha sido o primeiro estudo a relacionar comportamentos do tipo representados através da utilização de vídeo games para atividade do cérebro específica, este estudo abre portas em diversas áreas da neurociência.

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Referências

Mathiak, Klaus; Weber, René, Toward brain correlates of natural behavior: fMRI during violent video games, Human Brain Mapping 27:948-956(2006)

ARCURI, Silvia M; MCGUIRE, Philip K. Ressonância magnética funcional e sua contribuição para o estudo da cognição em esquizofrenia. Rev. Bras. Psiquiatr.,  São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 38-41, Maio de 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000500012&lng=en&nrm=iso>. Acessado 27/Julho/2015.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462001000500012.

https://en.wikipedia.org/wiki/Functional_magnetic_resonance_imaging. Acessado 27/Julho/2015

https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADgdala_cerebelosa. Acessado 27/Julho/2015

Uma nova possibilidade para o tratamento do abuso de drogas

Por: Amanda Siena

Nosso cérebro é uma máquina complexa, que se comunica entre si e com várias partes do nosso corpo para que tudo funcione bem. Parte dos responsáveis por essa comunicação são os chamados neurotransmissores. Levam informação de uma região à outra e podem ser dos mais diferentes tipos. Dentre eles está o glutamato, que sabemos estar relacionado com aprendizagem e memória. Entretanto, novos estudos mostram que ele também tem grande importância no distúrbio de abuso de drogas.

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Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e do “National Institute on Drug Abuse” em Baltimore realizaram experimentos onde um rato é colocado em um tipo de caixa, contendo uma alavanca, que ao ser pressionada libera para o animal alguma coisa agradável para o mesmo, nesse caso a cocaína. Quando administrado uma substância que aumentava a neurotransmissão do glutamato (apenas nos seus receptores do tipo mGluR5), observou que os ratos pressionavam mais vezes a barra que liberava cocaína. De forma contrária, quando uma substância responsável por bloquear parte daqueles mesmos receptores de glutamato no cérebro, diminuindo então a atividade desse neurotransmissor, os animais diminuem significativamente o número de vezes em que pressionam a barra. Ou seja, diminuem a busca pela droga.

Anteriormente, acreditava-se que apenas a dopamina, outro tipo de neurotransmissor, associado ao prazer, fosse responsável por esse distúrbio. Esses resultados mostraram uma especificidade em regiões cerebrais, aquelas onde esse tipo de receptor do Glutamato está presente, relacionados à busca por drogas no cérebro. A utilização de medicamentos responsáveis por bloquear os receptores mGluR5 podem, futuramente, serem utilizados para diminuir essa busca. Abrindo um novo caminho para o tratamento do abuso de drogas.