![]() |
![]() |
por Lucas Rodrigues Silva e Stéfane Ravagnani
Estado vegetativo é a ausência de consciência de si ou do ambiente e funções autônomas preservadas. O diagnóstico baseia-se na falta de sinais espontâneos em resposta a estímulos externos. No entanto, uma vez que pacientes com distúrbios de consciência muitas vezes apresentam padrões de movimentos fragmentados, ações voluntárias podem passar despercebidas.
Baseado nesta afirmação, um grupo de pesquisadores [1] criou um protótipo de motor simples que poderiam detectar sinais de comportamento intencional em pacientes que estejam em estado vegetativo com leve a graves danos cerebrais, examinando as respostas neurais a comandos verbais. Vinte e quatro pacientes que tinham diagnóstico de Estado Vegetativo foram recrutados para este estudo. Onze destes pacientes,

mostrando potenciais evocados auditivos (teste que avalia se está funcionando perfeitamente as vias auditivas nervosas desde a orelha interna até o cérebro) preservados passaram por ressonância magnética para testar se havia o processamento básico da voz humana. Cinco desses pacientes, que apresentaram atividade relacionada à palavra, foram incluídos em um segundo estudo com ressonância magnética para detectar alterações funcionais no córtex pré-motor conduzidos por instruções para mover a sua esquerda ou a mão direita. Apesar da falta de atividade muscular visível, dois pacientes em cada cinco ativaram a área dorsal do córtex pré-motor contralateral à mão instruída, de acordo com a preparação do movimento. Estes resultados podem refletir um resíduo de intenção de movimento nestes dois pacientes.
A resposta cerebral a estímulos auditivos de fala, já poderia representar algum sinal de consciência, mas estudos com pessoas saudáveis anestesiadas revelaram que isto pode acontecer inconscientemente [3]. Outros estudos anteriores ainda afirmam que a preparação para um movimento ativa, tipicamente, o córtex pré-motor. Esta preparação, acompanhada de movimentação muscular, é considerada resultado de uma atividade consciente.
Os autores do estudo [1] acreditam que a identificação de resultados positivos com ressonância magnética utilizando esta tarefa simples, pode complementar a avaliação clínica, ajudando alcançar um diagnóstico mais preciso em pacientes com distúrbios de consciência.
Para isso, é necessário que a equipe médica tenha um diagnóstico correto e saber qual dos tipos de estado vegetativo foi encontrado. Num relatório sobre o estado vegetativo do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2005) [2], os autores nomeiam dois tipos: (i) estado vegetativo continuado, quando o quadro persiste pelo menos 4 semanas e (ii) estado vegetativo persistente, quando o paciente permanece adormecido por mais de 3 meses ou 12 meses como consequência de traumatismo craniano. Outra questão abordada no relatório é até onde podemos não medir esforços para prolongar a vida de um ser humano? Como e quando decidir a hora de deixar esta pessoa “descansar em paz”?
Esta é uma temática que causa polêmicas, pois estamos lidando também com a família deste paciente, que possui expectativas, mas ao mesmo tempo já se encontra cansada da situação e preocupada com o sofrimento do próprio parente. Para abordar este tema é necessário estar munido de leis e diretrizes que apoiem ou não cada decisão que pode ser tomada, algo que, em nosso e outros países, precisa ser mais bem estruturado para não haver desentendimentos entre família e equipe médica, além de possibilitar melhores tomadas de decisões. Polêmicas à parte, o resultado desta pesquisa pode contribuir para que a medicina detecte pacientes que ainda tem um potencial de recuperação.

Para saber mais:
[1] Bekinschtein, Tristan Andres; Manes, Facundo Francisco; Villarreal, Mirta; Owen, Adrian Mark; Della-Maggiore, Valeria. Functional imaging reveals movement preparatory activity in the vegetative state. Frontier in Human Neuroscience. Janeiro, 2011. – Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21441977
[2] Carneiro, António Vaz; Antunes, João Lobo; Freitas, António Falcão de. Relatório Sobre o Estado Vegetativo Persistente. Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Fevereiro, 2005 – Disponível em: http://www.cnecv.pt/admin/files/data/docs/1273055807_P045_RelatorioEVP.pdf
[3] http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21002013000500016&script=sci_arttext
![]() |
![]() |